sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Ressurreição de um sentimento

Por: Luciano Patussi

09 de dezembro de 2022

 

POR TODA A VIDA

Vai doer a vida toda! Jamais esquecerei o semblante de minha filha ao término da partida decidida nos pênaltis e que sacramentou a eliminação da seleção brasileira diante da Croácia, na Copa do Mundo de 2022. A reação dela determinou: essa foi a derrota do futebol brasileiro que mais me entristeceu até hoje. Óbvio, isso é uma questão particular, algo que outras pessoas podem ter vivenciado de modo similar, ou sentido de forma totalmente diferente. Tudo depende da realidade e do momento de cada indivíduo! Algumas derrotas me frustraram, irritaram ou me deixaram estagnado, talvez indiferente, ou até envergonhado. Mas, a derrota contra a Croácia me entristeceu como jamais pensei que me sentiria ao ver um jogo da seleção nacional brasileira!

Obviamente, isso é só futebol, e sei que existem outras questões de maior relevância e prioridade na vida de um ser humano. Mas, para quem é apaixonado por este esporte, podemos afirmar que o futebol é a coisa mais impactante dentre as menos importantes de nossa existência. Muitas vitórias vividas e outras que virão, por exemplo, jamais apagarão de minha mente, o rosto de minha filha, aos seus oito anos de idade, nesse dia 9 de dezembro, justamente em um momento da vida onde ela começa a se interessar e se apaixonar por detalhes do jogo de futebol. Sangrou, meu coração!

 

SAFRA PROMISSORA

Passados vinte anos após a última conquista mundial da seleção brasileira, entendo que o Brasil voltou a ter uma geração de jogadores muito promissora, com alguns talentos diferenciados que vão crescer ainda mais em nível mundial, caso de Vinícius Júnior, por exemplo – que está longe do teto que alcançará mas, ainda assim, já é diferenciado tecnicamente! Isso, por si só, traz esperança em dias mais felizes para o futebol nacional!

 

PÊNALTIS: UMA DISPUTA MENTAL

Naturalmente, em uma partida de futebol, e igualmente em uma disputa de desempate via pênaltis, existem “n” variáveis que possibilitam a uma equipe buscar a classificação, com maior chance de êxito.

Sinto enorme frustração ao ver o time, pelo qual estou torcendo, entrar “já derrotado” para o desempate via penalidades da marca da cal. E isso aconteceu em “Brasil x Croácia”. Entendo que o andamento do jogo, até chegar na disputa de pênaltis, eleva o desgaste físico; compreendo também, a carga emocional que aumenta. Todavia, nesse momento, entra um dos fatores principais da decisão por pênaltis: o fator mental! Nunca pensei que sentiria saudades de ver as atitudes apaixonadas e motivadoras do lendário Zagallo, na beira do gramado! Em uma disputa de pênaltis, com atletas já desgastados, o momento exige mentalidade motivadora e confiante, até para mostrar aos adversários que eles vão perder, e não nós! Nós é que sairemos vitoriosos. Isso precisa ser mentalizado. Tais atitudes podem não decidir o jogo a nosso favor, obviamente, mas aumentam a chance de êxito!

Pô, era a Croácia! Atual vice-campeã mundial! Time competitivo. Não havia nenhum demérito em ir aos pênaltis. Houveram erros no decorrer do jogo, OK! Mas, já que isso ocorreu e os pênaltis viraram realidade, era esperado que as lideranças surgissem naquele momento e vibrassem para acordar a equipe, para irem confiantes, com seus mais experientes atletas chamando a responsabilidade – inclusive o capitão, zagueiro tecnicamente qualificado e renomado mundialmente mas que, após não aparecer na lista dos cinco batedores iniciais, deu as caras no fim da partida para, em entrevista penosa, iniciar a “cavadinha” visando vaga futura na CBF. Isso, sem falar na decisão de colocar Rodrygo, um ótimo jogador, atleta extremamente técnico e promissor, mas ainda jovem, para bater a primeira cobrança, quando tínhamos no elenco a fama, a experiência e a técnica de Neymar Júnior – que devido ao andamento das cobranças perdidas, acabou nem precisando executar sua quinta e estrelada penalidade. Por vezes, como já afirmado anteriormente, as penalidades máximas são um jogo vencido na estratégia e, principalmente, na mentalidade do momento, ainda mais após o desgaste físico proporcionado por 120 minutos de jogo. Mas...

 

OLHAR CIRÚRGICO: OS PEQUENOS DETALHES E RESPONSABILIDADES DE UMA DECISÃO

O futebol é o esporte onde há o maior número de fatores que, combinados, levam a uma derrota dolorida ou até a glória eterna. Os pequenos detalhes mencionados no parágrafo anterior poderiam, se executados de modo diferente, não levar a lugar algum – pois isso é um jogo, e a Croácia é um bom time, que poderia ter vencido a disputa independente da decisão pela ordem dos cobradores da seleção brasileira, ou do sumiço de determinados líderes. Mas, tudo isso são pequenos detalhes que maximizam ou minimizam as chances de vitória. Não há culpados. É só um esporte. Há responsabilidades. Alguns a chamam para si e decidem, entrando para a história da memorável vitória ou da derrota dolorosa – mas não fugindo do momento derradeiro e decisivo. Já outros...

A derrota faz parte do esporte. Há fatores, dentro do jogo, que dependem de tomada de decisão no momento, e não há como voltar atrás. Jamais busco apontar culpados, e sim responsabilidades. Culpa é uma palavra forte, pois isso é um jogo, e toda a torcida está triste, sendo que isso envolve atletas e seus familiares. A grande frustração fica registrada por conta de que foi nítido que Brasil falhou em detalhes estratégicos: na prorrogação e na atitude de liderança positiva (ou falta dela) na hora de mobilizar para a cobrança de pênaltis.

 

PRIORIDADES

Resta a torcida agora viver a vida, enxugando as lágrimas de nossos filhos pequenos, na esperança de que os promissores talentos da seleção brasileira não esmoreçam, chegando em 2026 num patamar avançado, com positivos e agregadores líderes ao seu lado no time. Com isso, aumentará a chance de vermos o Brasil novamente campeão mundial nesse esporte que é, sem sombra de dúvidas, o que mais envolve pessoas e sentimentos na face da Terra! E, preferencialmente, que dentre as prioridades esteja o semblante sério, porém confiante, chuteira preta, força mental e coletiva, tendo foco principal no futebol, deixando clics, seguidores e agendas estéticas em segundo plano. Tipo 1994!